As Diabólicas

As Diabólicas

Enredo

O thriller psicológico francês de 1955, As Diabólicas, dirigido por Henri-Georges Clouzot, é uma história magistralmente elaborada de engano, manipulação e a escuridão que reside dentro da psique humana. O filme é vagamente baseado em um romance de 1938 de mesmo nome, mas a adaptação de Clouzot eleva a narrativa a novas alturas, criando uma experiência suspensa e inquietante que se tornou uma referência para o gênero thriller. A história centra-se em Michel Delassalle (interpretado por Paul Meurisse), o diretor sádico e calculista de um prestigioso colégio interno. Delassalle é um mestre da manipulação psicológica, usando seu intelecto e charme para extrair cada último fragmento de emoção de seus subordinados. Suas vítimas são predominantemente os meninos sob seus cuidados, sujeitos a abusos físicos e emocionais perturbadores e comoventes. A vida doméstica de Delassalle é igualmente disfuncional, com sua esposa, Christina (interpretada por Véra Clouzot), pisando em ovos para evitar sua ira. Christina é uma mulher nervosa e tensa, desesperada para manter uma fachada de normalidade em seu relacionamento. Apesar de sua postura mansa, Christina foi levada à beira da loucura pelo tratamento cruel de seu marido. Entra Nicole Horner (interpretada por Simónne Signoret), a amante de Delassalle e a personificação de tudo que Christina não é. Nicole é uma femme fatale confiante e sedutora, exibindo descaradamente seu caso amoroso na frente de Christina. A tensão entre as duas mulheres é palpável, cada uma representando um lado diferente da mesma moeda – a complacência passivo-agressiva de Christina versus a rebelião descarada de Nicole. Quando Delassalle é brutalmente assassinado, parece quase justiça poética que a improvável dupla de Christina e Nicole tenha se unido para orquestrar sua morte. Em uma das reviravoltas mais infames do cinema, as mulheres, ainda cambaleando com seu ato sombrio, começam a desmoronar após o ocorrido. Com o passar dos dias, Christina fica cada vez mais descontrolada, lutando para manter a compostura enquanto as autoridades e a equipe da escola começam a investigar o desaparecimento de Delassalle. A tensão do filme aumenta, com o frágil estado mental de Christina se deteriorando ainda mais a cada quadro que passa. Nicole também está longe de estar calma, suas emoções oscilando violentamente entre euforia e culpa. Clouzot elabora magistralmente a atmosfera, usando uma paleta de cores suaves e cenários claustrofóbicos para aumentar a sensação de pavor. As técnicas inovadoras de câmera do diretor, incluindo o uso marcante de tomadas longas e ângulos altos, aumentam a sensação de desconforto. Cada rangido de tábua do assoalho, cada olhar suspeito, torna-se uma potencial pista falsa, mantendo o público à beira de seus assentos. À medida que o mistério se desenrola, a outrora diminuída Christina começa a ocupar o centro do palco, seu desespero e pânico atingindo um tom febril. A cada cena que passa, Clouzot puxa o tapete de seus pés, forçando-a a confrontar as consequências de suas ações. Em uma exibição impressionante de manipulação psicológica, Nicole pressiona habilmente os botões de Christina, explorando suas vulnerabilidades para atingir seus próprios objetivos. A cena mais icônica do filme – em que a câmera permanece em uma sala aparentemente vazia, o som de passos ecoando nas paredes – se tornou um clássico instantâneo no cânone do cinema. É uma aula magistral de tensão, onde as percepções do público são viradas de cabeça para baixo e os limites entre realidade e ilusão são habilmente confundidos. Em última análise, As Diabólicas é um conto preventivo sobre a escuridão que espreita dentro de todos nós, esperando para ser desencadeada pela menor faísca. Christina e Nicole, duas mulheres unidas por sua culpa compartilhada, são forçadas a confrontar os horrores que criaram, com suas próprias psiques desmoronando no processo. Através de sua intrincada teia de tensão e suspense, As Diabólicas apresenta um comentário fascinante sobre o poder destrutivo da emoção desenfreada e as consequências devastadoras de permitir que nossos impulsos mais sombrios nos consumam. Este é um filme que o deixará à beira do seu assento, questionando a própria natureza da moralidade e as profundezas da psique humana.

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