Espelho

Espelho

Enredo

"Espelho" é um filme dramático biográfico soviético de 1975 realizado por Andrei Tarkovsky, baseado nas suas próprias memórias de infância e num livro de Andrei Biriukov, 'Andrei Rubliov'. A narrativa emprega uma estrutura não linear e não convencional, alternando entre o passado e o presente, combinando elementos de fantasia e realidade. O filme é uma obra profundamente pessoal e introspectiva que explora as próprias experiências de vida do realizador, entrelaçando-as com momentos cruciais da história soviética. O filme centra-se no alter ego do realizador, Alexander, um homem no seu leito de morte, nos seus quarenta e poucos anos. Enquanto Alexander jaz no seu momento de morte, flashes de memórias da sua infância começam a desenrolar-se, recordando a sua mãe, o seu irmão e as relações da família entre si. Estes fragmentos misturam-se gradualmente em cenas da infância da sua mãe, mostrando a resiliência da família durante um período de grande turbulência. Vemos vislumbres das próprias memórias da sua mãe, especificamente os anos da Primeira Guerra Mundial e da subsequente Revolução Russa, quando era uma jovem a ver a sua família lutar para lidar com as perdas devastadoras. Estas cenas demonstram como a guerra pode perturbar e distorcer a percepção da vida normal, como se o próprio tempo se tornasse cada vez mais instável. À medida que a vida de Alexander se esvai e a linha temporal do filme se torna cada vez mais ténue, testemunhamos momentos cruciais da história soviética, juntamente com cenas da vida quotidiana. Uma sequência especialmente emotiva retrata um jovem rapaz, Alexander, a observar a execução do Czar e da sua família no verão de 1918, o que teve um efeito profundo na sua perspetiva sobre o mundo e o seu funcionamento. As recordações de Alexander continuam a oscilar entre o passado e o presente, tecendo uma complexa tapeçaria de memórias. As linhas entre a fantasia e a realidade começam a esbater-se à medida que o cineasta esbate os limites do tempo e do espaço. Uma sequência impressionante retrata Alexander a caminhar por uma paisagem gelada, onde a câmara percorre um cenário desolado e pós-apocalíptico, justapondo a devastação da guerra com o mundo sereno e idílico da infância. Tarkovsky emprega o seu estilo visual característico em todo o filme, combinando paisagens deslumbrantes com planos íntimos e detalhados. A cinematografia captura magistralmente os momentos fugazes de beleza do mundo, enquanto a vida de Alexander se esvai. O seu pai aparece no ecrã como uma figura sombria, muitas vezes perdida num passado distante ou consumida pelos seus próprios demónios pessoais, aumentando a sensação de desconexão que permeia as relações da família. À medida que Alexander se aproxima do fim, o filme muda de tom e vemos vislumbres do seu filho Ivan e do seu neto já adultos, sugerindo a continuidade de uma tradição que foi transmitida ao longo das gerações. Isto acrescenta uma sensação de intemporalidade à narrativa, sublinhando a ideia de que as experiências e lutas das gerações anteriores moldam a vida daqueles que vêm depois. Através da narrativa de "Espelho", Andrei Tarkovsky entrelaça magistralmente o pessoal e o histórico, criando uma poderosa biografia não linear que transcende os limites do tempo e do espaço. O filme oferece uma reflexão pungente sobre a forma como as experiências pessoais podem informar a nossa perspetiva sobre a passagem do tempo e como as lutas dos nossos antepassados podem moldar a nossa própria compreensão do mundo. "Espelho" é um testemunho da exploração profunda da experiência humana pelo realizador, deixando para trás um legado cinematográfico duradouro que continua a cativar o público até aos dias de hoje.

Espelho screenshot 1
Espelho screenshot 2
Espelho screenshot 3

Resenhas