Betty Blue

Enredo
Tendo como pano de fundo pitoresco a Marselha dos anos 70, a vida de Jacques Vilenque era uma tela de cores vibrantes e personagens ecléticos, mas, por baixo da superfície, ele lutava para encontrar estabilidade e propósito. Um aspirante a romancista com talento para o dramático, Jacques passava os dias como um faz-tudo insatisfatório, remendando os azulejos quebrados das pessoas que o contratavam, enquanto suas noites eram preenchidas escrevendo em seu diário e buscando inspiração fugaz. Foi em um desses canteiros de obras precários que ele conheceu Betty Blue, uma sereia de 23 anos com uma vasta cabeleira ruiva e um fogo que ardia dentro dela como um incêndio. A química entre Jacques e Betty era inegável e, enquanto dançavam pelas ruas de Marselha, ficou claro que o amor deles era um romance turbulento ao qual nenhum dos dois conseguia resistir. Mas, com o passar do tempo, Jacques começou a perceber que Betty não era como nenhuma outra mulher que ele já havia conhecido. Seus humores oscilavam descontroladamente, oscilando entre picos eufóricos e baixas devastadoras, e sua obsessão por sua escrita frequentemente a consumia a ponto de exaustão. Era como se ela estivesse possuída por uma força criativa feroz, uma força que aterrorizava e fascinava Jacques. Apesar de suas próprias aspirações criativas, Jacques não pôde deixar de encorajar as tendências destrutivas de Betty, fornecendo a ela vinho e validação suficientes para manter sua escrita fluindo como sangue de uma ferida. Conforme se estabeleciam em um apartamento decadente, mas boêmio, no coração da cidade, Jacques observava com crescente preocupação enquanto a compreensão da realidade de Betty começava a escorregar. Sua escrita tornou-se cada vez mais errática, com divagações e poemas de fluxo de consciência que deixavam Jacques sem fôlego. Ela frequentemente desaparecia por horas a fio, apenas para retornar com contos de encontros com personagens estranhos ou visões de um mundo que parecia existir apenas em sua mente. Seu relacionamento, que antes era tão vibrante e cheio de vida, lentamente começou a se desgastar nas bordas. Os amigos e familiares de Jacques ficaram preocupados com seu envolvimento com Betty, sentindo que ela era uma força a ser reconhecida, mas também alguém que acabaria por consumi-lo. Eles avisaram Jacques que ele estava preso em uma teia de sua própria autoria e que precisava ter cuidado para não se perder no vórtice da loucura de Betty. Mas Jacques estava fundo demais na correnteza para ouvir, muito fascinado pela voragem que o atraía. Um dos momentos mais comoventes do relacionamento deles ocorreu quando Jacques, em uma tentativa desesperada de estabilizar Betty, a levou para ver as obras de Paul Klee na galeria de arte municipal. As pinturas vibrantes, mas melancólicas, de Klee pareciam falar diretamente das experiências de Jacques com Betty – as cores fragmentadas e as formas abstratas refletindo o caos que se tornara suas vidas. Enquanto estavam diante da tela, Jacques prendeu a respiração, esperando que Betty encontrasse algum consolo na arte de Klee, algum reflexo das emoções turbulentas que fervilhavam dentro dela. Mas, em vez disso, ela se virou para ele com uma expressão selvagem, seus olhos brilhando com uma mistura de criatividade e desespero, e declarou que ela também tinha uma visão – uma visão de cor e caos que mudaria o mundo para sempre. Nesse momento, Jacques percebeu que era impotente para impedir o declínio de Betty na loucura. Tudo o que ele podia fazer era estar lá para ela, para segurar sua mão durante o turbilhão de emoções que a devastavam, mesmo que isso significasse ser mudado para sempre pela experiência. O relacionamento deles, que antes era uma coisa bonita e cintilante, havia se tornado um desastre em câmera lenta, mas Jacques se recusou a abandoná-la, mesmo quando a correnteza a puxava cada vez mais para a escuridão. No final, foi Jacques quem ficou no precipício, contemplando a paisagem desolada que havia sido o amor deles. Ele foi deixado para ponderar as questões que os assombraram durante todo o tempo que passaram juntos – o que aconteceu com a garota que antes era tão cheia de vida e risadas? O que desencadeou a descida à loucura e havia um caminho de volta? Ou era tarde demais e eles simplesmente se tornaram vítimas de suas próprias ambições criativas, presos para sempre em um mundo de cores e caos do qual nenhum deles poderia escapar? A resposta, assim como as pinturas de Paul Klee, permaneceu um mistério, um lembrete assustador da fragilidade da psique humana e da natureza ilusória da verdade. Tudo o que restou foi a memória de Betty Blue, uma visão fugaz de um amor que inspirou e destruiu Jacques, deixando-o mudado para sempre, mas, em última análise, para sempre insatisfeito.
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