Sra. Fang

Sra. Fang

Enredo

Sra. Fang é uma exploração discreta, mas pungente, da vida, da mortalidade e das complexidades das relações humanas. Ambientado numa pequena e serena aldeia no sul da China, o filme acompanha a vida de Fang Xiuying, uma mulher de sessenta e sete anos, assolada pela mão cruel da doença de Alzheimer. À medida que sua condição se deteriora, ela é devolvida para sua casa, onde é cuidada por seus parentes e por uma rede de vizinhos atenciosos. A história começa com Fang Xiuying deitada na cama, seu espírito antes vibrante agora diminuindo lentamente. Sua mente, no entanto, ainda se apega às lembranças de seu passado – fragmentadas, desconexas e muitas vezes confusas. Seus olhos, embora nublados pela doença, retêm uma profunda tristeza, uma tristeza que parece transpassar o próprio tecido de seu ser. Neste cenário de perda e decadência, o filme apresenta um elenco de personagens que cuidam da Sra. Fang em graus variados. Há sua filha, que tenta equilibrar as necessidades de sua mãe com as exigências de sua própria vida; os vizinhos, que oferecem o pouco apoio que podem; e um grupo de funcionários médicos, que tentam proporcionar algum conforto, apesar da futilidade de seus tratamentos. Ao longo do filme, esses personagens entram e saem da vida da Sra. Fang, às vezes com ternura, às vezes com impaciência e, ocasionalmente, com uma mistura de ambas as emoções. Eles testemunham a deterioração de sua saúde e, ao fazê-lo, confrontam suas próprias vulnerabilidades e mortalidade. Eles lutam para entender, para se conectar e para proporcionar consolo diante da implacável descida da Sra. Fang para a escuridão. À medida que a história se desenrola, as memórias da Sra. Fang começam a surgir, fugazes e imprevisíveis, como fios de fumaça que desaparecem tão rápido quanto aparecem. Essas lembranças, embora carregadas das distorções da demência, oferecem vislumbres de uma vida rica em experiência, amor e perda. Vemos fotografias do passado da Sra. Fang – momentos de alegria, de tristeza, de lutas cotidianas e de triunfos silenciosos. Um dos aspectos mais marcantes do filme é o uso de tomadas longas e lentas, que nos permitem entrar no mundo da Sra. Fang de uma forma quase envolvente. O ritmo deliberado do diretor Wang Bing permanece sobre os personagens, o cenário e os pequenos e significativos eventos que pontuam suas vidas. Observamos um membro da família persuadir gentilmente a Sra. Fang a comer, ou um vizinho trazer uma tigela fumegante de sopa – momentos que são ao mesmo tempo mundanos e transcendentes em sua beleza. A cinematografia, tratada pelo diretor de fotografia Yu Qingli, é igualmente impressionante, capturando a elegante tranquilidade da paisagem chinesa e as texturas intrincadas da vida cotidiana dos personagens. Os aldeões, com seus rostos desgastados e gestos suaves, parecem esculturas vivas e respiratórias, congeladas no tempo. As dificuldades da Sra. Fang em recordar suas próprias memórias, em encontrar significado em sua própria vida, são espelhadas na vida daqueles ao seu redor. Eles também estão lidando com sua própria mortalidade, suas próprias perdas e seu próprio desejo de conexão. Desta forma, o filme torna-se uma poderosa exploração não apenas da doença e da morte, mas do que significa ser humano. À medida que a história se aproxima do fim, o declínio da Sra. Fang acelera e suas memórias tornam-se cada vez mais desconexas e desconectadas. No entanto, mesmo em meio a um sofrimento tão profundo, há uma beleza em sua existência – uma beleza que é ao mesmo tempo de partir o coração e sublime. Em última análise, Sra. Fang é um filme que nos desafia a confrontar o mistério da própria vida – um mistério que é ao mesmo tempo belo e brutal, transcendente e confuso. Pede-nos para testemunhar, para observar e para valorizar os momentos que fazem a vida valer a pena, mesmo diante da mortalidade.

Sra. Fang screenshot 1
Sra. Fang screenshot 2
Sra. Fang screenshot 3

Resenhas